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De onde os homens tiram tanta autoconfiança?

Enchem-se de si mesmos e não fazem qualquer autocrítica. Foto; Reprodução/Internet

Márcia Lage
50emais

Uma poderosa instituição secreta para formação da confiança masculina deve existir. Chega a ser desconcertante vê-los atuando no campo da conquista sexual. Não têm o menor constrangimento diante de uma mulher, seja ela mais nova, mais velha, mais bonita, mais feia, menos culta ou mais culta do que eles.

É como se o pênis os armasse de coragem e os impedisse de fazer qualquer autocrítica.

Outro dia ouvi de um senhor bem simples, de aparência tosca e confessadamente analfabeto, que era casado com uma professora universitária.

Como o encontro de almas tão distintas havia se dado, ele explicou: feitiço.

A família da mulher era macumbeira, segundo ele, e só poderia tê-lo envolvido em mandingas para desposar a mestre em Literatura, que não tinha nenhum defeito de caráter.

Tratava-o bem, sem arrogância ou superioridade. Era boa dona de casa, excelente professora, ganhava o suficiente para não depender dele. Sustentava a casa, enquanto ele brincava de ser fazendeiro, engordando vacas magras e plantando feijão e milho.

– Não gosto dela. Nunca gostei. Casei assim meio sem saber o que estava fazendo e fomos vivendo. Já tem 40 anos. Ela já era velha na época, mais de 30. Por isso não tivemos filhos.

Ela aproveitou para continuar estudando. Fez mestrado, doutorado, deixou de dar aulas para criancas e agora dá aula em universidade.

– E nunca quis se separar do Senhor?

– Não. Nunca brigamos. Eu logo arranjei uma namorada, que está comigo até hoje. É dessa que eu gosto. Mas ela é casada e não quer confusão. Então a gente vai tocando desse jeito.

– Você acha que sua mulher também pode ter um namorado?
– De jeito nenhum. Ela é doida comigo.

– Mas se o casamento não vai bem e o senhor já se virou arrumando uma
amante, porque não se separam?

– O tal do feitiço, acho. Também estou doente e ela cuida bem de mim. Se eu separar vou ficar sozinho. A outra não pode ter essa responsabilidade.

– Entendo. E quando vocês se casaram ela não ensinou o senhor a ler e escrever? Já que gosta tanto de estudar, deve ter cobrado mais conhecimento do senhor, estou certa?

– Ela me ensinou a assinar o nome e a fazer contas, Maria tem 10 laranjas, chupou duas. ficou com quantas? Essas coisas assim. Então, deu para eu levar meus negócios e ficou por isso mesmo. Ela estudou por nós dois. É uma mulher muito inteligente.

– Então, o senhor acha que estão juntos por causa de uma macumba?

– Só pode ser. Eu não teria casado com ela de jeito nenhum. É feia, sabe? Muito sem graça. Estava largada no mundo, fora da idade de casar. Tirei ela da solidão. Por isso que ela não me larga. Ruim comigo, pior sem “migo”.

O homem se despede. Tinha um compromisso. Fico imaginando se não estava indo buscar seu diploma na escola de formação da auto-estima masculina, que deve existir, com certeza.

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