Maya Santana, 50emais
Parece que agora é definitivo: a moda, finalmente, começa a valorizar modelos mais velhas. Nessa reportagem de Gilberto Júnior, para o Globo, sobre o aumento de modelos com mais de 40/50 anos nas passarelas, ele conversa com duas das maiores consultoras de moda do país – Costanza Pascolato e Glória Kalil. Ambas lamentam que a indústria da moda tenha levado tanto tempo para perceber a mudança dos tempos, com o envelhecimento da população. “Não entendo o porquê de uma garota de 17 anos estar na passarela de uma marca que não seja teen(jovens). Não tem a menor graça. Só uma mulher que sabe bem quem é consegue carregar uma roupa perfeitamente — diz Costanza.”
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Há mais ou menos quatro anos, Costanza Pascolato percebeu um movimento interessante na indústria da beleza: de repente, rostos joviais cediam espaço, ainda que timidamente, a traços maduros. A moda foi impregnada pela ideia, e a passarela deixou de ser um território povoado somente por adolescentes, várias recém-saídas da puberdade. Muita gente se perguntou: seria o fim do mito da juventude?
Veja a última temporada internacional: a Valentino resgatou Kristen McMenamy, de 54. A Versace trouxe Shalom Harlow, de 45, para fechar seu desfile. Enquanto a Dolce & Gabbana recrutou Carla Bruni, de 50, Helena Christensen, de 49, e Eva Herzigova, de 45, para vestir suas criações. Naomi Campbell, de 48, segue nas cabeças, emplacando trabalhos da Miu Miu à H&M, assim como Cindy Crawford, de 52, Kate Moss, 44, Stephanie Seymour, de 50, Monica Bellucci, de 54, e Christy Turlington, de 49.
Na São Paulo Fashion Week, em outubro, a Água de Coco escalou Constanze von Oertzen, de 53, e Marcos Luko, de 49; já a Lilly Sarti elegeu Shirley Mallmann, de 41.
— O mundo da moda sempre foi radical para o outro lado. Não entendo o porquê de uma garota de 17 anos estar na passarela de uma marca que não seja teen. Não tem a menor graça. Só uma mulher que sabe bem quem é consegue carregar uma roupa perfeitamente — diz Costanza. — O que acontece na maioria dos desfiles é a despersonalização do ser humano.
Para a empresária e consultora de moda, falta militância aos maduros, especialmente no Brasil:
— Minha filha Consuelo (Blocker, influenciadora digital) costuma brincar que por aqui não é ruim ser velho; é errado. Temos uma sociedade machista, na qual a mulher com uma certa idade não é contemplada. Daí, o sucesso enorme das cirurgias plásticas. É necessário reivindicar, representamos um mercado extraordinário. Queremos peças bacanas e confortáveis.
Liana Thomaz, dona e diretora criativa da Água de Coco, afirma que a escolha de modelos mais velhos tem a ver com a fase interna da grife de beachwear e do mundo:
— É um momento de quebra de paradigmas, então foi um caminho natural. Não consigo encontrar uma razão que explique o fato de a moda ter seguido por tanto tempo um determinado padrão. Só encontro pontos positivos por deixá-lo para trás. Com essa atitude, passamos a falar com mais gente. Recebemos mensagens de internautas dizendo o quanto estão felizes por se sentirem representadas. Isso faz todo o trabalho valer a pena!
Gloria Kalil, consultora e editora de moda, diz que essa mudança de postura foi esperta:
— Os empresários se deram conta de que essas pessoas são consumidoras a quem se deu muita pouca atenção até agora. Clique aqui para ler mais.